Piloto Bruno Junqueira – Jornal Estado de Minas arquivo
Por Lucas Machado
Aos 10 anos, o piloto belo-horizontino Bruno Junqueira ganhou de aniversário do seu pai, o ex-piloto da Stock Car Brasil, José Alberto Junqueira, seu primeiro kart. Aos 14, já tinha vencido três campeonatos brasileiros da categoria. Em seguida, foi levado para a Fórmula 3 Sul-americana, conquistando o título na terceira temporada. Depois disso, não parou mais de acelerar. Venceu o campeonato Europeu da Fórmula 3.000, foi escolhido para ser piloto de teste da equipe Williams, uma das mais cobiçadas da Fórmula 1. Em seguida muitos títulos foram conquistados e alguns acidentes. Bruno já morou na Itália, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Em uma breve passagem pelo país – hoje ele mora em Miami –, Bruno nos concedeu uma entrevista exclusiva.
O que move um garoto de 10 anos a tomar uma decisão por toda uma vida e persistir nesse sonho?
Comecei a correr de kart, mas, até ganhar o primeiro campeonato brasileiro, era apenas uma brincadeira. A partir daquele momento, tomei a seguinte decisão: essa é a minha paixão, quero ser piloto de corrida para o resto da minha vida. Parei de jogar futebol ou qualquer outro esporte que fosse perigoso para minha carreira e me concentrei no automobilismo.
O que você mais gosta de fazer?
Quando não estou correndo ou treinando, gosto de ficar com a minha família e andar de bike, afinal de contas, sou de BH, né?
Já pensou em desistir e largar a sua carreira?
Algumas vezes. A vida de piloto é sempre uma encruzilhada, conseguir patrocínio, equipe para correr. Estive várias vezes diante dessa situação. Tive alguns acidentes que me deixaram um tempo sem correr. Existem episódios delicados e várias vitórias, um piloto tem que saber balancear os bons e maus momentos.
Quem segue o automobilismo mundial, e em especial sua carreira, sabe que você teve grandes vitórias e um grave acidente nas 500 milhas de Indianápolis, em 2005. Além das marcas físicas, isso te deixou algum trauma?
Decepções e perdas fazem parte das grandes vitórias. Para ganhar uma corrida e um campeonato, tem que perder alguns também, faz parte do aprendizado. Hoje tenho duas réguas de titânio e muitos parafusos, mas, com certeza, me tornei uma pessoa diferente. Depois do trauma de um acidente, você vê a vida de uma maneira diferente. Acho que cresci muito em termos de pilotar um carro, não mudou muito.
Como foi ter convivido por tantos anos com uma das maiores lendas do cinema mundial, Paul Newman, sócio da equipe Newman/Haas? Qual a memória mais forte?
O Paul era apaixonado pelo automobilismo, e olha que eu vivo corrida. Ele é uma das pessoas que conheci que mais gostou do automobilismo, além disso, era um grande piloto. Foi um grande prazer e uma honra trabalhar com ele.
Você tem um filho de 2 anos. É seu desejo que ele siga sua carreira?
Meu desejo é que ele seja feliz. O que ele quiser fazer, terá todo o meu apoio.
Viagens, carros velozes, mulheres bonitas, dinheiro. É mesmo glamourosa a vida de um piloto profissional?
Para quem vê de fora, sim, tem muito glamour, mas tem muita ralação também. É claro que, quando você está lá dentro, tem que ter uma cabeça muito boa para não se perder. Ganhar corridas e os melhores salários tem muita pressão. Em muitas viagens, você conhece as cidades do aeroporto para o hotel, do hotel para a pista e da pista para o aeroporto. A diversão é menor do que as pessoas pensam, principalmente até chegar nas grandes equipes.
Como é a sua preparação física?
Adoro esporte, sempre gostei, desde criança. Automobilismo é um esporte diferente porque não é como uma corrida de rua, ciclismo ou triathlon, ganha quem está melhor preparado fisicamente. É diferente, pois você tem que estar muito bem preparado para dirigir o carro 100% durante a corrida inteira. O aeróbico e muito importante, natação, corrida, que exige muito: pescoço, ombro e braço. Faço musculação e pilates. Não bebo bebida alcoólica, só água.
Você corre hoje na American Le Mans, pela equipe Jaguar, e tem como companheiro de equipe outro mineiro, o Cristiano da Matta. Como é a relação de vocês?
Somos amigos de infância. Apesar de já termos corrido contra, hoje temos a oportunidade de corrermos no mesmo carro. Estou aqui no Brasil há dois dias e já pedalamos juntos, saímos para jantar. Mesmo em 2002, na Fórmula Indy, ele ganhou o campeonato e fiquei em segundo, já disputamos várias corridas que fiquei em primeiro e ele em segundo. Sempre tivemos um relacionamento muito bom.
Hoje vemos muitos pilotos brigando não só nas pistas, mas também fora delas, com declarações na mídia. Como você enxerga isso?
Afinal, automobilismo é um esporte tenso, tem muita pressão por resultados. Largam 26 e só um ganha. A mídia gosta de colocar uma pimentinha. Os atritos, na maioria das vezes, são construídos na pista e incrementados pela mídia. Mas, raramente, tive algum problema com meus companheiros de corrida.
Qual é a sua opinião sobre o Galvão Bueno?
Eu o conheci na época em que estava na Fórmula 3000, e na Fórmula 1 tivemos um bom relacionamento, ele ia a todas as corridas. O filho dele [Cacá Bueno] corria com o meu motor, o conheço há muito tempo, temos um ótimo relacionamento. Acho o Galvão um bom narrador, mas, como comentarista, prefiro não falar.